segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Depoimentos Chiquinho do Acordeão

Luiz Gonzaga representa toda a música nordestina, e se ela é conhecida aqui no Sul, deve-se a ele. No começo de 40, quando o Lua lançou o baião, ninguém conhecia esse gênero por aqui. Era Luiz na sanfona, mais a zabumba e o triângulo, e assim o sanfoneiro arrastou para cá o xaxado, o xote nordestino, que ele reviveu, e isso tudo foi dar no forró de hoje, dançado em salões por até 4 a 5 mil pessoas, que compõem um segmento mínimo da enorme massa de imigrantes do Nordeste. Eles se encontram nos forrós e renovam a cultura musical popular da terra distante. Esses salões, no centro do Rio, são o dos Servidores, do Sírio e Libanês, que é do cantor Anísio Silva, além de outros na rua do Riachuelo e na Ilha do Governador. Em São Paulo, a quantidade desses forrós é bem maior. E a origem maior disso tudo é Luiz Gonzaga, que nunca deixou de se apresentar na beira das estradas, nos salões e palanques humildes, nas feiras, nas esquinas, onde houvesse povo.
Luiz Gonzaga foi sempre um grande instrumentista, o que se pode sentir desde suas primeiras gravações em solo de sanfona, subindo ao Céu e Chamego. Mas ele deixa a parte para o canto: “Quem me abriu o caminho foi o lagunense Pedro Raimundo, que cantava e tocava. Senti que meu caminho também era esse: de tocar minha viola e cantar.”
Luiz Gonzaga deixou uma descendência artística, como Dominguinhos, Oswaldinho e toda uma geração de sanfoneiros que está atuando por aí. Abriu, também, caminhos para Jackson de Pandeiro e para os artistas nordestinos quem vêm para o Sul. Como criador e estilista, não há ninguém que se compare, até agora, àquele que é chamado até hoje de Rei do Baião. Ele agora volta ao ponto de partida, a cidade de Exu para finalmente cuidar do seu pé de serra.
Chiquinho do Acordeão

(Extraído do livro, contido na caixa de discos Luiz Gonzaga - 50 anos de Chão, de João Máximo)

Depoimentos Raimundo Fagner

O primeiro show que vi minha vida foi o Gonzagão, na Praça do Ferreira, em Fortaleza. O Lua é do Exu, mas ama o Ceará e a estrada que liga aquela cidade e o estado foi feita pelo Ceará. Ele tem coração cearense. Aquela multidão que eu via pela primeira vez era a realidade da maior voz do Nordeste, tentando fazer chegar ao Sul o nosso canto, a nossa realidade. Ele sempre batalhou muito para que a nossa voz fosse ouvida. É o Mestre Maior. Pelo trabalho que fizemos juntos, apenas por aqueles momentos maravilhosos, já me sinto gratificado pela profissão que escolhi.
Fizemos uma amizade muito grade e bonita. Eu, ele e Gonzaguinha, tanto que virei padrinho de Mariana e fui “adotado” por D. Helena e Lelete. Essa família é a minha família. Quando gravamos nosso primeiro LP juntos, a resposta foi tão expressiva, nossa penetração no Nordeste foi tão bem recebida que gravamos um outro a seguir. Neste, procurei destacar o seu lado de autor, desde Chamego até Pobre Sanfoneiro. De Humberto Teixeira e Zédantas até João Silva e parceiros tais como Miguel Lima e Beduíno. A emoção desses trabalhos é enorme e eu só posso agradecer ao velho Lua o carinho e a disponibilidade de enfrentar os estúdios enquanto trabalhamos juntos.

(Extraído do livro, contido na caixa de discos Luiz Gonzaga - 50 anos de Chão, de João Máximo)