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No último sábado (03) o professor e ambientalista de Santa Cruz do Capibaribe, Arnaldo Vitorino, foi destaque em matéria do jornal Diário de Pernambuco.
Mais uma vez, o assunto é a sua luta em defesa do Rio Capibaribe, rio pelo qual o professor, juntamente com outras causas, luta quase que de forma solitária pela volta de sua integridade ambiental, luta esta travada desde a década de 1980.
A reportagem, escrita pela jornalista Luce Pereira, mostra um resumo de seu trabalho como ambientalista, conta um pouco de sua história pessoal e fatos marcantes como ameaças de morte por ele já recebidas e outros pontos.
Atualmente, Arnaldo se dedica a causa da perenização do Rio Capibaribe, ideia que tem como objetivo trazer água para o Rio Capibaribe através da construção de um canal partido do Rio Paraíba, que recebe águas da transposição do Rio São Francisco.
Confira o texto escrito, que foi veiculado na versão impressa e digital da publicação:
O professor que leva a vida defendendo um rio
Luta de Arnaldo Vitorino, que começou nos anos 1980, tem rendido frutos e é reconhecida na região
São inúmeras e profundas as diferenças entre Donald Trump e o professor (aposentado) da rede estadual Arnaldo Vitorino da Silva, 63 anos, morador de Santa Cruz do Capibaribe, município do Agreste a 192 quilômetros do Recife.
Mas, nesta Semana do Meio Ambiente, uma se sobressaiu entre as tantas: enquanto Trump anunciava a saída dos Estados Unidos do Tratado de Paris – acordo climático assinado por 195 países, onde os integrantes se comprometeram a trabalhar para diminuir a emissão de gases e, conseqüentemente, o efeito estufa – o professor cumpria sua obstinada rotina de lutar pela sobrevivência do Rio Capibaribe, ameaçado pela poluição e pela ganância, a mesma que fez o presidente da nação mais poderosa dar as costas à preservação da saúde do planeta.
Diferentemente do excêntrico magnata novaiorquino, que coloca a economia acima de qualquer outra importância, Silva sonha em deixar bem plantada e protegida a semente do seu esforço, que começou a ser empreendido lá pelos anos 1980. Tanto tempo depois, lidando com perigos, dificuldades e falta de apoio, a luta não dá sinais de ser vencida tão cedo, mas está longe de parecer inglória.
Ele acredita e segue. De moto ou de quadriciclo, o professor formado em geografia pela Faculdade de Formação de Professores de Belo Jardim (Fabeja) percorre sistematicamente longas distâncias para avaliar perdas e ganhos do rio, em termos de preservação. Aprendeu a conhecer de perto cada trecho dele, dispondo-se inclusive a percorrer a pé, durante 14 dias, em 2007, os 249 quilômetros que separam o município de Poção (Agreste) do Recife, expedição composta por técnicos do estado e estudiosos. Fartamente documentada através de livro e de material audiovisual, era o que faltava para a criação do COBH-Capibaribe.
O Comitê de Bacias Hidrográficas, como se sabe, não representa em si a salvação dos rios de Pernambuco, mas uma possibilidade de ampliação das vozes que os defendem. Neste caso, a do professor Arnaldo está entre as que mais fazem alarde, denunciando agressões, propondo melhorias e cuidados, articulando apoios. Ele diz que quando se trata de meio ambiente, as coisas caminham “devagar demais”, mas que o importante é semear para o futuro.
E o futuro está nas salas de aula, na formação da consciência ambiental nos jovens. Nesta quinta-feira, foi difícil localizar o paradeiro dele, algo conseguido apenas com a ajuda de amigos. Estava dando palestra para alunos do Ensino Fundamental de uma escola de Taquaritinga do Norte, de onde voltou exausto mas gratificado. Como sempre. “É uma luta boa, não posso parar”, diz com voz pausada, tranquila. Talvez sejam a obstinação e a calma o que o move a enfrentar até mesmo ameaças muito concretas. Por insistir em ver de perto os prejuízos causados ao rio pelos resíduos resultantes da lavagem química de jeans, em Toritama – um dos maiores polos têxteis do estado – já foi recebido a tiros e precisou sair correndo do local.
“Também levei carreira e fui ameaçado de morte, junto com outras pessoas envolvidas no trabalho, mas nada disso desanima”, afirma rindo. Nem pode. Sem sua voz, população e autoridades não saberiam que a retirada de areia do Capibaribe por empresas do segmento da construção já atingiu níveis alarmantes, ele calcula que mais de 70%. Neste quesito, ao menos um avanço: a criação, em 2010, de uma lei para regulamentar a atividade, o que fez diminuir o nível da exploração.
Pedra no sapato de prefeitos que fecham os olhos a ataques contra o rio de sua devoção, o professor Arnaldo Vitorino é a voz que tanto conversa com os ribeirinhos quanto se faz ouvir no Comitê das Bacias ou entre pesquisadores que desembarcam na cidade para reunir dados sobre a situação do manancial.
Ele só não quer chegar a um ponto do próprio caminho acreditando que deixou de fazer tudo o que poderia para afastar agressores. Trabalho de “formiguinha” reconhece, mas uma contribuição rara à sobrevivência do Capibaribe, que, sim, também é o rio de todos nós.
A reportagem foi originalmente publicada no link a seguir >>> Diário de Pernambuco