Segundo delegado, alimentos entregues vinham em menor quantidade e qualidade do que o estabelecido. Polícia apreendeu dinheiro e bens.
Por G1 PE
Polícia investiga desvio de dinheiro na compra de merenda escolar no Grande Recife
A Polícia Civil de Pernambuco desencadeou, nesta quarta-feira (21), a Operação Ratatouille, que investiga fraude no fornecimento de merendas para escolas municipais do Cabo de Santo Agostinho. Segundo a corporação, os alimentos que eram entregues nas escolas vinham em menor quantidade do que o estabelecido no contrato e com qualidade inferior ou até apodrecidos.
Na manhã desta quarta, foram cumpridos 20 mandados de busca e apreensão, além de três mandados de sequestro de bens móveis no Grande Recife e Mata Sul do estado. Os crimes investigados foram praticados no município do Cabo de Santo Agostinho, durante a gestão do prefeito José Ivaldo Gomes, conhecido como Vado da Farmácia (ex-PSB), entre 2013 e 2016.
Um ex-secretário do Cabo e atual secretário de outro município, além de um vereador em mandato também estariam envolvidos. A polícia não divulgou a identidade dos investigados.
A operação investiga crimes licitatórios, desvio de recursos públicos e lavagem de dinheiro. O nome faz referência ao filme Ratatouille, no qual um rato comandava a cozinha. Segundo a corporação, foi escolhido em alusão às precárias condições das cozinhas onde eram preparadas as merendas e aos alimentos apodrecidos que eram fornecidos por uma das empresas investigadas.
As investigações foram presididas pela Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Administração e Serviços Públicos (Decasp) e tiveram início há três meses, após a PC ter acesso a um relatório do Tribunal de Contas que constatava o oferecimento de alimentos impróprios para consumo.
“O relatório tinha ilustrações e estava bastante fundamentado. O que era entregue era inferior em qualidade e em quantidade ao valor pago no contrato”, ressalta o chefe de Polícia Civil, o delegado Joselito do Amaral.
Em nota, o PSB reinterou que Vado da Farmácia não pertence ao Partido Socialista Brasileiro. "O ex-prefeito do Cabo de Santo Agostinho teve a filiação cancelada desde o dia 7 de julho de 2014 e desde então não faz parte do PSB de Pernambuco", apontou.
Caixas de sapato com dinheiro em moedas nacionais e internacionais foram encontradas na casa de um dos investigados da Operação Ratatouille
(Fotos: Divulgação/Polícia Civil)
Apreensões
Segundo a Polícia, entre os bens apreendidos estão carros, embarcações e documentos. Na casa de um dos empresários investigados, que não teve o nome revelado pela corporação, foram encontradas pelo menos seis caixas de sapato cheias de notas de R$ 50 e R$ 100, além de uma quantia em moeda internacional. A Polícia também não informou o valor total do montante.
"Foram apreendidos muitos bens, embarcações, carros, documentos. Esse material vai passar por uma triagem, que, possivelmente, vai resultar no pedido de prisão das pessoas investigadas", afirmou Joselito do Amaral.
Os mandados foram cumpridos nos municípios do Cabo de Santo Agostinho, Recife, Jaboatão, e Olinda, na Região Metropolitana, além de Tamandaré, Escada e Sirinhaém, na Mata Sul do estado. Uma equipe de 130 policiais civis participaram da operação, entre delegados, agentes e escrivães.
O G1 tenta localizar o ex-prefeito do Cabo, José Ivaldo Gomes. Mais detalhes da operação devem ser divulgados em coletiva quinta-feira (22).
Veículos e embarcações foram apreendidos na casa do ex-prefeito do Cabo, José Ivaldo - (Foto: Divulgação/Polícia Civil)
Citado em delação
Vado da Farmácia é um dos políticos investigados que consta na lista do ministro Luiz Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), que reúne políticos com foro privilegiado que são alvos de inquérito.
Segundo o depoimento de dois delatores, Djean Vasconcelos Cruz e Paul Elie Altit, Vado da Farmácia recebeu, em 2012, R$ 150 mil para a campanha eleitoral à Prefeitura do Cabo de Santo Agostinho, município localizado na Região Metropolitana do Recife. As transações teriam sido realizadas a pedido do próprio candidato com objetivo de favorecimento no empreendimento Reserva do Paiva.
Na época, Vado da Farmácia negou ter recebido qualquer recurso de forma ilícita para a campanha eleitoral de 2012. O inquérito segue em andamento, segundo o site do STF.