terça-feira, 22 de março de 2011

Armando Monteiro defende aumento de acordos bilaterais entre Brasil e Estados Unidos

E o Nordeste, em termos relativos, se fosse um país, teria uma economia mais fechada que o Brasil”, disse o senador pernambucano

Do site Política Real (www.politicareal.com.br)

Comentando a visita do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ao Brasil neste fim de semana, o senador Armando Monteiro (PTB-PE) criticou, em entrevista à Política Real, a preferência dada ao multilateralismo na política externa brasileira e afirmou que o Brasil perdeu acordos bilaterais com o governo americano para outros países da América Latina.

O senador afirmou que a tentativa do presidente americano de aprofundar as relações comerciais para o Brasil, que perderam espaço para a China, deve ser aproveitada pelos empresários nordestinos para abrir a economia da região. Confira a entrevista completa:

Política Real: O Nordeste, antes mesmo do Brasil, passou a ter a China como seu principal parceiro comercial. Como você vê a chegada do presidente Obama, com essa determinação para que os Estados Unidos volte a ser o maior parceiro comercial do Brasil?

Armando Monteiro: Além das questões ligadas à agenda de conteúdo, no que diz respeito a acordos comerciais, as visitas têm um caráter simbólico importante, porque ela marca, a meu ver, um momento em que as relações bilaterais se redimensionam. Os Estados Unidos, com a presença do presidente Obama, sinaliza para a compreensão de que o Brasil tornou-se um parceiro de primeira linha no contexto dos interesses geopolíticos americanos. Eu tenho certeza que a presença do presidente Obama traduz exatamente essa compreensão dos Estados Unidos, de que o Brasil passa a ter um novo papel, de maior importância. Evidentemente, isso traz para os agentes econômicos, para os agentes políticos, um estímulo para que esse redimensionamento das relações se expresse em todos os níveis: comercial e nas relações de Estado.

Política Real: No Legislativo, seria possível fazer com que essa relação tivesse uma melhor composição? Nós sabemos que a decisão do Brasil em reconhecer a China anteriormente como economia de mercado gerou muitos danos, e o parlamento acabou aquecendo aquela decisão do governo federal.

Monteiro: Eu acho difícil que nós possamos retroceder nessa posição que conferiu esse status na relação com a China, de reconhecimento como economia de mercado, que me pareceu à época uma decisão equivocada. Mas de qualquer forma, não vejo como o Brasil possa retroceder, até pela importância que a China passou a ter no contexto econômico e comercial do mundo. A China se transformou no principal parceiro comercial do Brasil. A corrente de comércio do Brasil com a China se ampliou extraordinariamente. O que nós precisamos agora é encontrar meios, e o Congresso tem um papel importante nisso, em dinamizar as relações e, eventualmente, atuar em alguns campos que são muito importantes. A comunidade empresarial americana reclama há muito tempo sobre a questão dos acordos de bitributação, que penaliza, especialmente, as empresas americanas. O Brasil pode avançar nessa direção.

Do ponto de vista das relações regionais, dos países do Mercosul com os Estados Unidos, eu acho que é possível também promover acordos novos, e nesse sentido o poder Legislativo pode colaborar. O Brasil pode também valorizar acordos bilaterais de comércio que podem também ser incrementados. O Brasil, especialmente a política externa nos últimos anos, ela teve uma preocupação muito acentuada, a meu ver, com a questão do multilateralismo. Muitas vezes, o Brasil poderia ter se valido mais do instrumento de acordos bilaterais em algumas áreas, como os próprios Estados Unidos vêm fazendo, privilegiando países que concorrem hoje com o Brasil, como por exemplo, o México, que tem uma relação especial com os EUA. Os EUA promoveram acordos bilaterais com a Colômbia, com o Chile, e está na hora de o Brasil pensar um pouco em como incrementar essas relações a partir de novos marcos e novos acordos.

Política Real: Pernambuco sempre foi um grande importador e exportador, no Nordeste, com os EUA. Como o Sr. vê a possibilidade de o Nordeste se inserir nesse novo papel que se dá para o Brasil.

Monteiro: Pernambuco sempre vendeu para o mercado americano; havia uma cota preferencial de açúcar com preços diferenciados. O desafio do Nordeste, apesar dessa tradição, é se transformar em uma economia com maior grau de abertura. O Brasil, como um todo, ainda é uma economia fechada. E o Nordeste, em termos relativos, se fosse um país, teria uma economia mais fechada que o Brasil. É o que os economistas chamam de coeficiente de abertura: a relação entre o produto de exportação e o PIB regional. O Nordeste precisa ampliar sua inserção externa. E nesse sentido, Pernambuco, por exemplo, é um Estado que ainda exporta relativamente pouco. Portanto, no momento em que o Brasil redimensiona suas relações com os Estados Unidos, o Nordeste precisa estar muito atento para identificar oportunidades neste momento. E para isso, é fundamental que a comunidade empresarial do Nordeste, porque os negócios são realizados pelas empresas e não pelo Estado, participe desse processo e intensifique a sua presença em fóruns empresariais, para que o Nordeste não fique à margem desse processo que vai se traduzir num incremento das relações comerciais nos próximos anos.

(por Evam Sena e Genésio Araújo Junior )


Budega Nordestina

Foto: Miguel Ângelo

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