sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Brincadeiras na infância: instrumento de socialização

O apelo ao consumismo e a frouxidão dos contatos interpessoais têm marcado o desenvolvimento da infância daqueles nascidos nos famigerados anos 2000. Num mercado de brinquedos abundante de produtos novos, as crianças são impulsionadas a fazer as escolhas mais modernas e mais promissoras, que, assim como os carros e outros bens materiais dos seus pais, têm como função principal simbolizar status social e cultural, em detrimento do divertir.

Isso quando os passatempos infantis são postos de lado e trocados por equipamentos eletrônicos, como computadores, celulares, videogame, tablets e ipods. Os pequenos (com um ano, dois e, em alguns casos, até com poucos meses de vida) nem sabem para que servem “aqueles” aparelhinhos. Quem perde? A própria criança.

“As brincadeiras estão mais solitárias. Hoje, os meninos brincam quando têm tempo. E, quando têm, gastam a sua hora de lazer no computador, muitas vezes à base de jogos violentos. Os brinquedos eletrônicos podem reduzir o processo de interação da criança com outras pessoas e até com os animais, o que pode embotar sua criatividade e deixá-la à mercê de um jogo”, defende a psicóloga cognitivo-comportamental, Alexandra Pontes.

A utilização desmedida dos aparelhos eletrônicos faz com que a criança, frequentemente, tenha pouco ou nenhum contato além do virtual (a não ser na escola), dificultando a sua capacidade de manter laços a longo prazo e estimulando o individualismo. “A fase mais importante da infância é o brincar, pois é por meio dele que a criança desenvolve os aspectos social, cognitivo, físico, mental e emocional”, define Alexandra. Quando a ela esse momento não é dado de forma adequada, a falta de interesse em coisas comuns à sua idade pode se estender a outros campos de sua vida.

Mais do que uma constatação, essa percepção ajuda a entender a fragilidade de alguns laços emocionais na infância atual e a dificuldade em lidar com a diferença do outro. Não é à toa que a prática do bullyng tenha sido, nos últimos anos, um dos assuntos mais discutidos nas escolas.

Segundo Pontes, a atividade lúdica saudável é essencial na infância, porque é através das brincadeiras que os pequenos estabelecem interações com o meio e com outras pessoas, tendo por base as características sociais e culturais em que eles vivem. “O poder da imaginação, da fantasia e da criação é específico da infância. E as brincadeiras estimulam essas capacidades”, afirma a psicóloga.

Ela acrescenta ainda que os pais nem sempre entendem que diminuir o contato da criança com o brincar pode dificultar o desenvolvimento adequado do pequeno, sobretudo, o raciocínio lógico e a criatividade. E se esse é o pano de fundo da infância pós-moderna, a criança vai imprimir sua marca “frouxa” em todas as suas possibilidades de experiência, inclusive na sua relação com as outras pessoas e com os próprios brinquedos.

Fonte. Folha

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