domingo, 6 de outubro de 2013

São coisas nossas

Os magistrados votaram contra Marina Silva e lamentaram o voto que tinham acabado de dar. Pediram desculpas porque, sabe como é, tinham de cumprir a lei.

Marina Silva disse que seu partido, apesar da derrota, venceu: "Se não temos o registro legal, temos registro moral perante a sociedade brasileira". Lembra Cláudio Coutinho, técnico da Seleção que perdeu a Copa da Argentina e proclamou o Brasil campeão moral. Mas a taça ficou com los hermanos.

Enfim, é verdade que a Rede de Marina, mesmo derrotada, é um fato político real; é verdade, também, que os juízes, apesar das desculpas, cumpriram rigorosamente a lei. Nem Marina nem os juízes estão errados. Errada está a lei.

Só há um motivo para que tribunais decidam se um partido pode ou não ser criado: o dinheiro público. O Tesouro paga aos partidos para que existam, dá-lhes de presente horários caríssimos, em todo o país, na TV e no rádio; em troca, o Estado impõe leis que disciplinam a organização partidária. Imaginemos que se inverta a equação: que os partidos surjam livremente, reunindo quantas pessoas quiserem formá-los (uma? Que seja uma!), e paguem suas próprias despesas, sem nada de dinheiro público. O filtro caberá ao eleitor, que escolherá quem deve ou não ocupar cargos eletivos. E que haja uma cláusula de barreira - como o que existe em outros países do mundo, normalmente de 5% dos votos - para impedir que legendas que só servem para atrapalhar se aboletem no Parlamento.

Funciona assim em outros países. Mas quem quer desistir das tetas oficiais?

Marina e sua equipe não conseguiram cumprir as formalidades burocráticas porque confundiram declarações de apoio com fichas regularmente assinadas e corretamente encaminhadas. É como achar que amigo do Facebook é amigo.

É como pensar que quem ganha no Banco Imobiliário fica rico na vida real.

Já a turma do trabalho duro e obscuro montou o Pros e o Solidariedade. Trabalharam na letra da lei. E seus sonhos, convenhamos, não são os de Marina.

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