quinta-feira, 24 de julho de 2014

Pernambuco se despede de Ariano Suassuna, nordestino que reinventou as artes

Foto: reprodução/internet

Nesta quinta-feira (24), familiares, amigos e fãs de Ariano Suassuna se despedem dele em cerimônia na sede do Governo do Estado, o Palácio do Campo das Princesas, área central do Recife. O enterro está marcado para às 16h, no Cemitério Morada da Paz, Região Metropolitana do Recife. O dramaturgo faleceu às 17h15 da quarta-feira (23), de parada cardíaca provocada pelo agravamento de um Acidente Vascular Cerebral Hemorrágico.

Em entrevista a Geraldo Freire, o senador pernambucano pelo PT, Humberto Costa, afirmou que a presidenta Dilma Rousseff vem ao estado para prestar uma homenagem ao dramaturgo e à família durante velório. Ela deve chegar ao Recife por volta das 13h10 e ficar até às 15h. Em seguida ela vai ao Rio de Janeiro, onde tem agenda oficial.

HISTÓRIA

Ariano Vilar Suassuna nasceu na cidade de João Pessoa, capital da Paraíba, passando parte da infância no município de Taperoá. A mudança para o Recife ocorreu na década de 1940, quando escreveu a primeira peça de teatro.

Formado em Direito, se dedicou às artes, sendo professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O escritor foi fundador do Conselho Federal de Cultura e secretário de Cultura nos governos Miguel Arraes.

Na década de 1970, Ariano Suassuna ajudou a fundar o Movimento Armorial, uma junção da arte erudita nordestina com raízes populares. O intelectual fala dos primeiros passos do Quinteto Armorial, uma forma de superar o fracasso de não ser músico:

A morte do escritor Ariano Suassuna, repercutiu na imprensa nacional e nas redes sociais. Ariano Suassuna deixa a esposa viúva, Zélia Suassuna, os filhos Joaquim, Maria, Manoel, Isabel, Mariana e Ana Suassuna, além de 15 netos.

O governador de Pernambuco, João Lyra Neto, decretou luto oficial de três dias. 

Amigo de longas datas, o ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, não escondeu a emoção ao falar de Ariano Suassuna. O socialista afirma que o escritor, poeta e dramaturgo deixa um importante legado para o País:

A presidenta Dilma Rousseff afirmou que guarda ótimas recordações dos encontros e histórias vividas com Suassuna. “O Brasil perdeu hoje uma grande referência cultural. Escritor, dramaturgo e poeta, Ariano Suassuna foi capaz de traduzir a alma, a tradição e as contradições nordestinas em livros como Auto da Compadecida e Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta. A obra de Suassuna é essencial para a compreensão do Brasil”, disse em nota.

>> Defensor da cultura nordestina, torcedor e militante político: o perfil do sempre bem humorado Ariano Suassuna
Foto: reprodução/internet

Aos 87 anos, o escritor, poeta e dramaturgo mantinha uma rotina de trabalho com as aulas espetáculo. Na última sexta-feira (18), no Festival de Inverno de Garanhuns (FIG) chamou a morte de Caetana e disse que será imortalizado pelos personagens que criou.

Ariano Suassuna também ficou conhecido pelas frases de efeito quando comentava a cultura e os artistas estrangeiros. “Não troco meu oxente pelo ok de ninguém” era um clássico dele.

Em dois mil e dois, o intelectual foi tema da escola de samba do Rio de Janeiro, Império Serrano. Seis anos depois, seria homenageado pela Mancha Verde, de São Paulo.

Ariano Suassuna recebeu homenagens do Carnaval 2014 em um trono especial. Foto: Rafael Souza/Rádio Jornal

Este ano, a maior agremiação carnavalesca do mundo, o Clube De Máscaras Galo da Madrugada, homenageou o escritor paraibano. Nas alegorias, os destaques eram para as obras “A pedra do reino”, “Cavalgada” e o “Auto da Compadecida”, peça teatral levada para a televisão e para o cinema. Ouça uma trecho de entrevista com ele feita pelo jornalista Rafael Souza e exibida em março.

O presidente do Galo da madrugada, Rômulo Menezes, relembra o convívio com essa personalidade nordestina:

A trajetória literária de Ariano Suassuna se confunde com o drama pessoal de perder o pai, assassinado por motivos políticos durante a Revolução de 1930.

O legado é vasto com as peças teatrais “Uma mulher vestida de sol”, “O casamento suspeitoso” e “O santo e a porca”; os romances história de amor de “Fernando e Isaura” e “A pedra do reino e o príncipe do sangue do vai e volta” e muitas outras obras.

O escritor Raimundo Carrero afirma que o colega das letras tinha uma visão ampla, sociológica e filosófica de mundo:

O escritor Ariano Suassuna também era um dos imortais das academias Pernambucana e Paraibana de Letras. O presidente da Academia Brasileira de Letras, Geraldo Holanda Cavalcanti, fala da importância do Nordestino:

No futebol, o escritor não escondia a paixão pelas cores vermelha e preta do Sport Clube do Recife. O dramaturgo era um frequentador assíduo do estádio da Ilha do Retiro, de onde acompanhou os títulos nacionais de 1987 e 2008.
Foto: Aldo Carneiro/Pernambuco Press

O presidente do Sport, João Humberto Martorelli, afirma que Ariano Suassuna faz parte da história do “Leão”:

Como militante socialista, Ariano Suassuna participou ativamente de campanhas eleitorais, além de ter ocupado cargos como o de secretário de Educação e Cultura do Recife, de 1975 a 1978; secretário de Cultura de Pernambuco, entre 1994 e 1998, durante governo de Miguel Arraes, e da Assessoria Especial do Governo de Pernambuco, na gestão de Eduardo Campos, desde até abril de 2014. O cientista Político, Hely Ferreira, analisa o papel do intelectual nordestino no contexto da política.

Personalidades e anônimos prestam última homenagem no velório do intelectual Ariano Suassuna.

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A última vez que Ariano foi flagrado deitado no chão de um aeroporto foi em 15 de abril, em Brasília. Foto: reprodução/internet

Não era um ato incomum do escritor esperar pelo voos deitado no chão dos aeroportos por onde passava. Ariano dizia que o ambiente era desconfortável e preferia esperar assim. Assessor do artista por mais de 10 anos, Alexandre Nóbrega escreveu “O decifrador”, no qual conta essa e outras peripécias do escritor.