
Quando ele saiu de casa dessa vez, foi diferente. Já não era mais o sonhador do passado que saía mundo afora no seu caminhão...
Ele agora carregava o peso dos anos e uma saudade enorme no peito. Ele saiu pra voltar, como sempre fez a vida inteira e todos esperavam que ele voltasse...
Voltasse contando as aventuras, onde andou, o que passou. Trouxesse as novidades da estrada, da vida e do tempo...
Todos queriam que ele voltasse pra tomar um café quente e se achegasse com suas conversas longas, suas prosas compridas, suas palavras...
O velho caminhoneiro ia mas sempre voltava. Chegava em casa e logo após o café bem quente queria voltar de novo à estrada...
O viajante sonhador fez sua viagem derradeira, não mais o caminhoneiro das estradas distantes. Ninguém sabia onde ele estava desta vez, mas estava tão perto e tão longe ao mesmo tempo...
Um caminhoneiro não vai embora pra sempre assim e Apolônio não avisou se voltaria logo ou iria demorar. Ele não ia embora sem antes tomar uma xícara de café fervendo...
O velho caminhoneiro encerrou sua viagem, no meio de tanta dor e sofrimento, numa sequência longa e dolorida de "desaparecimento" e "morte"...
Resta-nos apegar à sua imagem do passado, na boléia de um caminhão, acenando com as mãos, dando adeus, com um sorriso largo de quem queria ganhar o mundo, pelas estradas desertas do país...
Texto de Clécio Dias.
Nota: Apolônio estava desaparecido há mais de um mês e ontem à noite foi encontrado por dois caçadores, perto de Gravata do Ibiapina.
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