quarta-feira, 2 de junho de 2010

Assassino confesso de Maristela Just é condenado a 79 anos de prisão


Foram mais de 21 anos de espera até se conhecer a decisão da Justiça sobre a acusação contra José Ramos Lopes Neto. Após o longo período desde que o crime foi cometido e ainda um julgamento adiado, o réu foi condenado a 79 anos de reclusão em regime fechado pelo assassinato da ex-mulher Maristela Just e ainda pela tentativa de homicídio contra os dois filhos.A sentença do júri popular, de homicídio duplamente qualificado e tentativa de homicídio qualificado, foi anunciada pela juíza Inês Maria de Albuquerque (foto) pouco antes das 3h da madrugada da quarta-feira (2), após cerca de 13 horas de julgamento no Fórum de Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife.A promotoria tinha pedido uma pena de 90 anos para José Ramos Lopes Neto, que não compareceu ao julgamento e é considerado foragido. A juíza confirmou que a prisão preventiva do réu foi pedida no dia 19 de maio, mas estava sendo mantida em sigilo para garantir a captura. Na pena, 30 anos pela morte de Maristela e 20 por cada tentativa de homicídio contra os dois filhos. Mas, o júri decidiu pela pena de 79 anos para José Ramos Lopes Neto, condenado por ter dado três tiros na ex-mulher, um tiro na cabeça do filho Zaldo Just, então com 2 anos, e outro no ombro da filha Natália Just, na época com 4 anos.ADIAMENTOO primeiro julgamento foi marcado para o 13 de maio, mas como o réu e o seu advogado não compareceram, houve o adiamento. Desta vez, mesmo sem a presença dos dois, o julgamento ocorreu à revelia.No começo da sessão, a juíza explicou que foi feita a busca do réu para que ele fosse intimado e preso, mas José Ramos Lopes Neto não foi encontrado nem em seu endereço próprio, nem na casa do pai, o advogado criminalista Gil Teobaldo. Assim, a partir de agora, ele é considerado foragido.“É um começo de um final. Acredito que uma das missões que eu tenho nessa vida é essa”, disse Zaldo. “Ele está solto por ai. E se ele decide terminar o que ele começou”, indagou Natália.A Defensoria Pública, que está representando a defesa do réu, informou ainda que não foi procurada por ele. Os defensores públicos do caso foram Flávia Barros e José Inaldo Cavalcanti. “Desde o júri passado a gente já estava com dados do processo, já estudávamos. O tempo foi razoável. Até porque a gente só usa o que estiver dentro do processo, então conversar com o réu, às vezes, não muda muita coisa”, contou José Inaldo.Das 25 pessoas chamadas para compor o conselho de sentença - os jurados que definiram a pena - sete foram escolhidos, sendo quatro mulheres e três homens. Estavam previstos depoimentos de seis pessoas, mas três delas foram dispensadas. Falaram apenas Natália Just e Zaldo Neto, filhos de Maristela e baleados no dia do crime, além do policial civil Harlan de Andrade, que esteve no local do crime.Natália foi a primeira a falar. A juíza esclareceu que eles não são encarados como testemunhas de acusação ou defesa e deveriam falar do que viveram e presenciaram naquele dia, ou seja, como vítimas. Zaldo foi o segundo a falar e, em seguida, Harlan de Andrade, única testemunha da defesa. As outras duas testemunhas arroladas pela defesa, Walter de Figueiredo Filho e Gilson Calábria, não foram localizadas, mas já tinham deposto em outras fases do processo.Em seguida, seria a vez do réu falar, mas ele também não compareceu e o julgamento acontece à revelia. Assim, teve início a fase do debate, começando com o pronunciamento do Ministério Público; os defensores falam na sequência e ainda houve réplicas e tréplicas.No início da noite, a defesa e a acusação fizeram suas considerações finais. Em seguida, um debate entre as duas partes foi promovido com réplica e tréplica. Após o debate, o júri se reúne para definir a sentença, considerada justa pela promotoria. “Estamos satisfeitos”, disse o promotor Edgar Braz.De acordo com a sentença, José Ramos Lopes Neto só pode recorrer da decisão se estiver preso.HISTÓRICOSão 21 anos desde que os crimes aconteceram. Maristela Just foi morta na casa dos pais, no bairro de Piedade, em Jaboatão. De acordo com as investigações, José Ramos Lopes Neto, que estava separado da mulher havia dois anos, foi à residência no dia quatro de abril de 1989. Lá, ele se trancou com Maristela e os filhos do casal em um dos quartos. José Lopes teria dado três tiros na ex-mulher, um tiro na cabeça do filho, então com 2 anos, e outro no ombro da filha de 4 anos.O irmão de Maristela, Ulisses Just, foi baleado quando tentava socorrer a irmã e os sobrinhos. José Ramos, que é filho do advogado criminalista Gil Teobaldo, chegou a ser preso. Ficou por um ano no presídio Aníbal Bruno e prestou vários depoimentos. Foi solto depois de um habeas corpus concedido pela Justiça.No julgamento marcado para o último dia 13 de maio, para frustração dos parentes e amigos de Maristela, o acusado e o advogado de defesa não compareceram e o júri foi adiado para esta segunda-feira. O advogado foi multado em 50 salários mínimos, o equivalente a R$ 25,5 mil, por não ter comparecido.Os filhos de Maristela, que foram vítimas do próprio pai, escreveram uma carta endereçada aos desembargadores do Tribunal de Justiça. Natália e Zaldo Just como uma forma de sensibilizar os desembargadores para que eles negassem qualquer recurso da defesa, caso o comerciante José Ramos seja condenado no julgamento. O documento foi protocolado, na última segunda-feira (31), no palácio da Justiça.“Nós crescemos com a impunidade. Foi uma ferida que sarou e hoje, após 21 anos, está sendo aberta novamente”, disse Zaldo. “A sociedade, o Brasil, Pernambuco precisa desse julgamento. Eu não digo condenação, porque a gente não sabe o que o júri vai decidir. Mas o julgamento deve existir até para o Estado tirar um pouco dessa vergonha”, falou Natália.

Fonte: pe360graus.com.br

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